sexta-feira, 10 de junho de 2011

RELEMBRE: Revista Veja divulga a contratação de Ratinho pelo SBT (02/09/98)

O apresentador Carlos Massa, o Ratinho, mudou de toca e ganhou um pedaço de queijo como nunca saboreou na vida. Na quinta-feira passada, Ratinho oficializou sua saída da Rede Record e assinou com o SBT um dos maiores contratos da televisão brasileira. Pelas suas cláusulas, o apresentador passa a ganhar um salário fixo de 800.000 reais por mês (contra 600.000 que recebia na Record). Na prática, seus rendimentos deverão chegar a 1,2 milhão mensais, com os acréscimos proporcionados pelo merchandising de produtos como pílulas para emagrecer e sua atuação como garoto-propaganda da Telesena. Já na celebração do contrato Ratinho ficou 9,85 milhões de reais mais rico. Este foi o valor do cheque que o SBT entregou ao apresentador a título de adiantamento. Uma segunda etapa da transação será concluída nesta semana. A princípio, o SBT teria de indenizar a emissora do bispo Edir Macedo em 43 milhões de reais pela quebra do contrato que ela tem com Ratinho. Caberá aos advogados da rede de Silvio Santos tentar diminuir essa cifra. Coincidentemente, esse é o valor aproximado que a Igreja Universal do Reino de Deus pagou a Silvio quando comprou do empresário a Rede Record, em 1989.
A contratação de Ratinho pelo SBT tem um objetivo claro: afastar a ameaça de perda da vice-liderança em audiência para a Record. O programa Ratinho Livre, apresentado nas noites de segunda a sexta, com média de 19 pontos, já vinha garantindo esse posto para a Record no horário. Ele batia sistematicamente atrações do SBT como a novelaFascinação e o seriado Os Simpsons. Além disso, servia como chamariz para aumentar a audiência de outros programas noturnos da Record. Há duas semanas, o SBT sofreu novo abalo com a estréia do segundo programa comandado pelo apresentador na Record, Ratinho Show, nos sábados à noite. Esse é o horário em que A Praça É Nossa, do SBT, tradicionalmente faz bonito, chegando a bater os índices da Globo, que apresenta reprises de filmes. O primeiro Ratinho Show alcançou 14 pontos de média, contra 13 de A Praça É Nossa.
Outro motivo que teria apressado Silvio Santos a fechar negócio com Ratinho foi o fato de a Record ter tentado, há apenas uma semana, tirar do SBT parte do elenco de A Praça É Nossa. A emissora do bispo se dispôs a pagar os 2 milhões de multa contratual dos humoristas Carlos Alberto de Nóbrega e Ronald Golias. Silvio conseguiu desfazer o negócio, mas teria ficado irritado com a investida da concorrente em seu principal cast de artistas. “Ainda não sei quem entra no lugar de Ratinho, talvez  Gilberto Barros, apresentador do Cidade Alerta”, diz Eduardo Lafon, diretor de programação da Record. Para a emissora, a saída de Ratinho representa um baque: seu programa diário respondia por 20% do faturamento da rede. “Apesar de não trazer bons anunciantes, Ratinho alavanca a audiência e, em dois anos, Silvio Santos terá pago o custo da rescisão contratual”, prevê um diretor do SBT. “Fiz um bom negócio”, disse Silvio Santos a VEJA após a assinatura do contrato.
O rato que ruge e não gosta de medir palavras já sai da Record falando mal dos antigos patrões. Ele se diz vítima de uma série de medidas da emissora. Num de seus últimos programas, Ratinho recebeu o ministro da Saúde, José Serra, para falar sobre câncer de útero. Depois do programa, a produção foi chamada para dar explicações ao diretor-presidente, o bispo da Universal Honorilton Gonçalves. “Ele queria saber por que não tinha sido avisado sobre a ida de um ministro à emissora”, diz Ratinho. “Vai ver ficaram com medo de Serra falar sobre exame papanicolau: como é proibido falar de papa entre eles…”, brinca. Outro atrito teria surgido quando os assessores de Ratinho iniciaram negociações com a direção de um banco interessado em anunciar no programa. O departamento comercial da Record não teria sido avisado e tudo foi cancelado. “Desde a época da Copa do Mundo que venho sendo tratado sem o carinho que mereço”, reclama Ratinho. Nova insatisfação surgiu há um mês, quando a direção da Record apertou o controle sobre o Ratinho Livre. Exigiu-se que ele fosse gravado, e não mais apresentado ao vivo, para evitar que palavrões e grosserias fossem ao ar. Como a audiência despencou, depois de algumas semanas o programa voltou a ser apresentado ao vivo.
Quando estreou, em setembro do ano passado, na Record Ratinho Livrealcançava 8 pontos de média, índice muito bom para a rede. Antes disso ele já fazia sucesso na CNT/Gazeta: chegava a 6 pontos, numa emissora em que 1 ponto já era considerado lucro. Sua saída da CNT/Gazeta foi disputada. O próprio Silvio Santos teria convidado Ratinho para o SBT. O apresentador queria 120.000 reais de salário. Silvio se propunha a pagar apenas 100.000. Depois de namorar a Rede Bandeirantes, aceitou o contrato da Record: 60.000 mensais de salário, além de uma porcentagem nas premiações telefônicas do serviço 0900, o que somava mais do que a proposta do SBT. Com seu show de bizarrices, Ratinho começou a ganhar muito dinheiro e fama. Silvio Santos tentou pela primeira vez tirar Ratinho da Record em março passado — a emissora do bispo deu-lhe um aumento substancial de salário e ampliou sua parte no lucro do 0900. Com o sorteio de prêmios durante a Copa do Mundo, o apresentador chegou a tirar 1,3 milhão de reais. Agora, passará a faturar quantia equivalente em todos os meses do ano.
Ratinho chega ao SBT em época de turbulência na emissora. Dois dias antes de assinar o contrato com o apresentador, Silvio Santos deixou de contar com a ajuda de dois de seus homens de maior confiança: Guilherme Stoliar, seu sobrinho e vice-presidente da emissora, e Luciano Calegari, que ocupava o cargo de consultor especial do SBT. Os dois se encontraram com Silvio na terça-feira e, após alguns minutos de conversa, teriam chegado a um consenso sobre o afastamento da dupla. A explicação oficial para o episódio é a diferença de pontos de vista entre os três executivos. Desde o primeiro trimestre deste ano, quando Silvio começou a despachar no complexo Anhangüera, onde ficam as novas instalações do SBT, estaria havendo constrangimento entre eles por causa das alterações que o empresário vinha fazendo na programação. Silvio desejaria uma TV mais popular, enquanto os dois prefeririam uma emissora com programas de maior qualidade e credibilidade. Para evitar atritos, já que Calegari trabalha com Silvio há quarenta anos e Stoliar é como se fosse um filho para ele, o empresário resolveu propor que deixassem a direção da emissora. A partir de agora, só Silvio Santos dá ordens no SBT. Os dois continuam recebendo seus salários. Na prática, Stoliar irá dirigir a TV a cabo Alphaville, de sua propriedade, enquanto Calegari ficará descansando em casa, até segunda ordem. Comentava-se na semana passada que o diretor de programação da Record, Eduardo Lafon, estaria sendo sondado por Silvio para trocar de time e comandar o núcleo de produções da emissora.

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