sábado, 9 de abril de 2011

SBT abusa dos clichês em sua nova novela, entenda mais!


O SBT investiu. “Amor e revolução” tem elenco com alguns talentos, direção do experiente Reynaldo Boury e figurinos e cenários que revelam um trabalho de pesquisa. Porém, nada disso se sustenta sem uma boa dramaturgia e os diálogos são inferiores até aos de outros trabalhos do mesmo autor, Tiago Santiago (“Mutantes” e “Caminhos do coração”).
Uma bula de remédio, com posologia, indicações de uso e um bom esclarecimento sobre efeitos colaterais é poesia burilada se comparada ao texto desta novela. Santiago possui a maior coleção de clichês sobre política dos anos de chumbo no Brasil que alguém possa reunir. Com isso, os atores ficam praticamente impedidos de alcançar alguma naturalidade em cena. Limitam-se a declamar panfletos.
Santiago empilhou pérolas ditas tanto pelos personagens estudantes quanto pelos militares. Exemplos: “A burguesia tem medo do comunismo, mas a burguesia vai ter que engolir”; “O Jango (João Goulart) está cutucando os militares e os americanos com vara curta”; “O amor cria tudo. A revolução muda tudo”; “Você acha que os americanos podem estar por trás desta conspiração?”; “Não gosto de política, gosto de arte” e a resposta: “Então faz arte para o povo”; “Tem que organizar o povo, não partir para o confronto suicida com os milicos”. Por aí vai, o acervo parece ilimitado.
A obsessão por explicar tudo, também. Ao ponto de existir uma cena de tortura em que o personagem de Marcos Breda, amarrado a uma cadeira, ouviu de seu algoz a seguinte observação: “Esta é a cadeira do dragão. Agora vou aplicar uma corrente bem forte, de 10 Ampères”. Só faltou dizer: “Depois não diz que não avisei, heim”.
Além de uma ou outra atuação — Lúcia Veríssimo e Licurgo Spínola entre elas —, salvam-se os depoimentos finais. Cheios de emoção verdadeira, alcançam o espectador como esta novela jamais vai conseguir. “Amor e revolução” desperdiçou um bom assunto. Em parte porque o texto do autor deixou muito a desejar. Em parte por apostar que o público seja burro e um tema histórico precisa ser oferecido mastigadinho. Quem viu a excelente “Anos rebeldes”, de Gilberto Braga, sabe que não é nada disso.

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