domingo, 14 de agosto de 2011

Daniela Beyruti: “A Record virou chacota, é uma emissora de primeira que não engata a segunda”


Imagem
Filha número 4 de Silvio Santos – é assim que ele se refere às seis herdeiras – Daniela Beyruti saiu-se como a mais interessada de todas por comunicação de massa, alma que move os negócios do pai desde sempre. Diretora Artística e de Programação do SBT há nove meses, está há seis anos na emissora e tinha 5 quando o canal nasceu.
Por ocasião do 30º aniversário do SBT, Daniela recebeu o Estado na sede da TV, na rodovia Anhanguera, na tarde da última quarta-feira. Falou de ibope, concorrência, finanças e, claro, Silvio Santos. Simpática sem afetação, dispensa postura de dona da casa. Cita erros e decisões sempre na primeira pessoa do plural – “acho que eu não decido” – e valoriza a suavidade no tom de voz. Nem parece que é filha do patrão.
Havia, em casa, a cobrança para que vocês assumissem funções nas empresas do pai?
Não. A nossa criação é muito pé no chão. Meu pai é muito simples, se considera igual a todo mundo, acho que ele não enxerga o tamanho que ele é. Ele educou a gente assim. Nós ou as colegas de auditório eram a mesma coisa. Eu me apaixonei pelo SBT, não só por causa dele. Sou da geração Bozo. Quando comecei a consumir televisão foi quando o SBT começou a existir. E fui crescendo e me envolvendo, me interessava pela forma como ele contava que as coisas aconteciam, gostava de saber como os cenários e as pessoas eram…
Qual é a sua formação?
Comunicação de massa. Eu fui a que mais se apaixonou por televisão desde o início. Fui para os Estados Unidos indefinida, não queria admitir que eu gostava de comunicação. Estava entre comunicação e hotelaria. E meu pai dizia: “você tem que escolher, não se baseie em mim”. Aí assisti a uma aula de comunicação e disse: “se meu pai gostar ou não, não interessa, é isso que eu quero”. Daí estudei, adorei ter estudado lá (Flórida) porque lá eu não era filha de ninguém. Foi uma oportunidade para eu me analisar.
Dizem que ele é centralizador nas decisões. Ainda é assim?
Eu não peguei a fase centralizadora dele, não posso dizer isso, o meu relacionamento profissional com ele sempre foi à base de muita conversa. Até antes de entrar aqui no SBT. Lembro que quando eu achei que ele tinha que se envolver num projeto social, lá atrás, e ele dizia que não achava que as pessoas iam se envolver, aí veio a Hebe com o Teleton e ele acabou apostando nisso. Depois ele disse que eu tinha ajudado.
Mas ele já a convenceu a mudar de ideia?
Acho que eu não decido. Eu tenho ele como um professor. Até porque quando converso com ele é tanta riqueza de conhecimento, que prefiro dizer: “estou pensando em fazer isso”, e trocar ideia com ele. Às vezes ele deixa eu experimentar e às vezes eu tenho que dar razão a ele e dizer: “você estava certo”.
A ideia de trazer o Roberto Justus foi sua?
Vocês estão pegando pesado comigo hoje (risos). A ideia foi nossa. É engraçado que foi depois dessa fase (quando o SBT contratou Justus, Eliana e o autor Tiago Santiago, em reação à contratação de Gugu Liberato pela Record), que o SBT começou a reagir. Todas as pesquisas que a gente fazia mostravam que o telespectador achava que a gente estava demorando pra reagir, que a gente tinha parado de brigar, que a gente não estava na competição. Naquele ano, essa movimentação de artistas deu um gás pro SBT. “Calma aí, a gente tá vivo, a gente quer voltar a ter o que é nosso!” E naquele ponto é que a gente reinicia a tendência de crescimento.
Vocês estão competindo com uma emissora que tem boa receita vinda da igreja, mas o SBT continua a resistir a propostas para vender horário à fé eletrônica. É possível vencer assim?
Acho que tem uma competição desleal, é lógico que o dinheiro traz uma mobilidade maior, mas com o que a gente tem, sobrevivendo aí do mercado tradicional, dos 30 segundos e do merchandising, sem abrir para terceiros, o que a gente está focando hoje é o nosso telespectador: o que ele quer consumir? A vida inteira a gente só lutou com o gigante, e a gente era o Davizinho ali, jogando a pedra, conseguindo pegar no calcanhar dele às vezes, e quando chegou um terceiro na jogada, o SBT começou a olhar muito para o lado e se perdeu. A gente viu que estava com uma imagem muito ruim de mudança de grade, que sempre foi a nossa estratégia ao lutar com a Globo. Vindo a Record, a gente perdeu a mão na estratégia, mudou mais, mudou sem avisar, ficou um pouco mais ansioso.
A venda do Banco Panamericano e do Baú ainda tem impacto nas finanças da TV?
As empresas são super independentes, não tem isso.Mas quando o banco se foi, houve aqui um aperto de cintos. Na primeira fase, sim, mas acho que o SBT reviveu nessa história. A gente passou por um momento difícil, houve perda, mas, de todos os cenários que foram apresentados pra gente, de 10 anos com todas as empresas em garantia, sem a gente ter a menor perspectiva se ia conseguir ou não saldar… A segunda solução que veio foi o acerto (venda) do Panamericano, e o cliente viu que as empresas precisam agora viver e ser saudáveis, o SBT ganhou nova vida.
E os contratos? Voltaram a ser feitos por longo prazo?
Eu não sei se é bom colocar ou não isso, mas prefiro ter as pessoas trabalhando aqui com contrato indeterminado. O que a gente viu é que não adianta nem a emissora ficar presa nem o funcionário. Hoje, o Ratinho não tem contrato, o Raul Gil e a Marília Gabriela também não. Essa coisa de amarrar, se o profissional amanhã ou depois quiser fazer outra coisa da vida dele, ele tem liberdade.
Ao contrário da Record, que se proclama a caminho da liderança, o SBT festejava o 2º lugar. Por que nunca cobiçou o 1º?
Não é, é que há a realidade. A Record virou chacota, é uma emissora de primeira que não engata a segunda, é o que o mercado fala. A gente nunca se expôs a isso. Estudei a grade da Globo, é uma grade de acordo com o hábito da população brasileira, é uma coisa linda. Você vai no Projac, é uma estrutura de primeiro mundo, é uma fábrica muito bem feita. Eles têm os seus méritos e a gente sempre se enxergou como uma emissora mais nova que tinha mais a crescer.
Vocês imaginam o SBT sem Silvio Santos?
Eu não fico pensando nisso. Minha forma de viver a vida é pensando no hoje. Vamos fazer planos pro SBT? Vamos. Mas ficar pensando no ruim, sofrer por antecipação, isso não.
Fonte: Cristina Padiglione (Estadão)

Nenhum comentário:

Postar um comentário