Filha número 4 de Silvio Santos – é assim que ele se refere às seis herdeiras – Daniela Beyruti saiu-se como a mais interessada de todas por comunicação de massa, alma que move os negócios do pai desde sempre. Diretora Artística e de Programação do SBT há nove meses, está há seis anos na emissora e tinha 5 quando o canal nasceu.
Por ocasião do 30º aniversário do SBT, Daniela recebeu o Estado na sede da TV, na rodovia Anhanguera, na tarde da última quarta-feira. Falou de ibope, concorrência, finanças e, claro, Silvio Santos. Simpática sem afetação, dispensa postura de dona da casa. Cita erros e decisões sempre na primeira pessoa do plural – “acho que eu não decido” – e valoriza a suavidade no tom de voz. Nem parece que é filha do patrão.
Havia, em casa, a cobrança para que vocês assumissem funções nas empresas do pai?
Não. A nossa criação é muito pé no chão. Meu pai é muito simples, se considera igual a todo mundo, acho que ele não enxerga o tamanho que ele é. Ele educou a gente assim. Nós ou as colegas de auditório eram a mesma coisa. Eu me apaixonei pelo SBT, não só por causa dele. Sou da geração Bozo. Quando comecei a consumir televisão foi quando o SBT começou a existir. E fui crescendo e me envolvendo, me interessava pela forma como ele contava que as coisas aconteciam, gostava de saber como os cenários e as pessoas eram…
Não. A nossa criação é muito pé no chão. Meu pai é muito simples, se considera igual a todo mundo, acho que ele não enxerga o tamanho que ele é. Ele educou a gente assim. Nós ou as colegas de auditório eram a mesma coisa. Eu me apaixonei pelo SBT, não só por causa dele. Sou da geração Bozo. Quando comecei a consumir televisão foi quando o SBT começou a existir. E fui crescendo e me envolvendo, me interessava pela forma como ele contava que as coisas aconteciam, gostava de saber como os cenários e as pessoas eram…
Qual é a sua formação?
Comunicação de massa. Eu fui a que mais se apaixonou por televisão desde o início. Fui para os Estados Unidos indefinida, não queria admitir que eu gostava de comunicação. Estava entre comunicação e hotelaria. E meu pai dizia: “você tem que escolher, não se baseie em mim”. Aí assisti a uma aula de comunicação e disse: “se meu pai gostar ou não, não interessa, é isso que eu quero”. Daí estudei, adorei ter estudado lá (Flórida) porque lá eu não era filha de ninguém. Foi uma oportunidade para eu me analisar.
Comunicação de massa. Eu fui a que mais se apaixonou por televisão desde o início. Fui para os Estados Unidos indefinida, não queria admitir que eu gostava de comunicação. Estava entre comunicação e hotelaria. E meu pai dizia: “você tem que escolher, não se baseie em mim”. Aí assisti a uma aula de comunicação e disse: “se meu pai gostar ou não, não interessa, é isso que eu quero”. Daí estudei, adorei ter estudado lá (Flórida) porque lá eu não era filha de ninguém. Foi uma oportunidade para eu me analisar.
Dizem que ele é centralizador nas decisões. Ainda é assim?
Eu não peguei a fase centralizadora dele, não posso dizer isso, o meu relacionamento profissional com ele sempre foi à base de muita conversa. Até antes de entrar aqui no SBT. Lembro que quando eu achei que ele tinha que se envolver num projeto social, lá atrás, e ele dizia que não achava que as pessoas iam se envolver, aí veio a Hebe com o Teleton e ele acabou apostando nisso. Depois ele disse que eu tinha ajudado.
Eu não peguei a fase centralizadora dele, não posso dizer isso, o meu relacionamento profissional com ele sempre foi à base de muita conversa. Até antes de entrar aqui no SBT. Lembro que quando eu achei que ele tinha que se envolver num projeto social, lá atrás, e ele dizia que não achava que as pessoas iam se envolver, aí veio a Hebe com o Teleton e ele acabou apostando nisso. Depois ele disse que eu tinha ajudado.
Mas ele já a convenceu a mudar de ideia?
Acho que eu não decido. Eu tenho ele como um professor. Até porque quando converso com ele é tanta riqueza de conhecimento, que prefiro dizer: “estou pensando em fazer isso”, e trocar ideia com ele. Às vezes ele deixa eu experimentar e às vezes eu tenho que dar razão a ele e dizer: “você estava certo”.
Acho que eu não decido. Eu tenho ele como um professor. Até porque quando converso com ele é tanta riqueza de conhecimento, que prefiro dizer: “estou pensando em fazer isso”, e trocar ideia com ele. Às vezes ele deixa eu experimentar e às vezes eu tenho que dar razão a ele e dizer: “você estava certo”.
A ideia de trazer o Roberto Justus foi sua?
Vocês estão pegando pesado comigo hoje (risos). A ideia foi nossa. É engraçado que foi depois dessa fase (quando o SBT contratou Justus, Eliana e o autor Tiago Santiago, em reação à contratação de Gugu Liberato pela Record), que o SBT começou a reagir. Todas as pesquisas que a gente fazia mostravam que o telespectador achava que a gente estava demorando pra reagir, que a gente tinha parado de brigar, que a gente não estava na competição. Naquele ano, essa movimentação de artistas deu um gás pro SBT. “Calma aí, a gente tá vivo, a gente quer voltar a ter o que é nosso!” E naquele ponto é que a gente reinicia a tendência de crescimento.
Vocês estão pegando pesado comigo hoje (risos). A ideia foi nossa. É engraçado que foi depois dessa fase (quando o SBT contratou Justus, Eliana e o autor Tiago Santiago, em reação à contratação de Gugu Liberato pela Record), que o SBT começou a reagir. Todas as pesquisas que a gente fazia mostravam que o telespectador achava que a gente estava demorando pra reagir, que a gente tinha parado de brigar, que a gente não estava na competição. Naquele ano, essa movimentação de artistas deu um gás pro SBT. “Calma aí, a gente tá vivo, a gente quer voltar a ter o que é nosso!” E naquele ponto é que a gente reinicia a tendência de crescimento.
Vocês estão competindo com uma emissora que tem boa receita vinda da igreja, mas o SBT continua a resistir a propostas para vender horário à fé eletrônica. É possível vencer assim?
Acho que tem uma competição desleal, é lógico que o dinheiro traz uma mobilidade maior, mas com o que a gente tem, sobrevivendo aí do mercado tradicional, dos 30 segundos e do merchandising, sem abrir para terceiros, o que a gente está focando hoje é o nosso telespectador: o que ele quer consumir? A vida inteira a gente só lutou com o gigante, e a gente era o Davizinho ali, jogando a pedra, conseguindo pegar no calcanhar dele às vezes, e quando chegou um terceiro na jogada, o SBT começou a olhar muito para o lado e se perdeu. A gente viu que estava com uma imagem muito ruim de mudança de grade, que sempre foi a nossa estratégia ao lutar com a Globo. Vindo a Record, a gente perdeu a mão na estratégia, mudou mais, mudou sem avisar, ficou um pouco mais ansioso.
Acho que tem uma competição desleal, é lógico que o dinheiro traz uma mobilidade maior, mas com o que a gente tem, sobrevivendo aí do mercado tradicional, dos 30 segundos e do merchandising, sem abrir para terceiros, o que a gente está focando hoje é o nosso telespectador: o que ele quer consumir? A vida inteira a gente só lutou com o gigante, e a gente era o Davizinho ali, jogando a pedra, conseguindo pegar no calcanhar dele às vezes, e quando chegou um terceiro na jogada, o SBT começou a olhar muito para o lado e se perdeu. A gente viu que estava com uma imagem muito ruim de mudança de grade, que sempre foi a nossa estratégia ao lutar com a Globo. Vindo a Record, a gente perdeu a mão na estratégia, mudou mais, mudou sem avisar, ficou um pouco mais ansioso.
A venda do Banco Panamericano e do Baú ainda tem impacto nas finanças da TV?
As empresas são super independentes, não tem isso.Mas quando o banco se foi, houve aqui um aperto de cintos. Na primeira fase, sim, mas acho que o SBT reviveu nessa história. A gente passou por um momento difícil, houve perda, mas, de todos os cenários que foram apresentados pra gente, de 10 anos com todas as empresas em garantia, sem a gente ter a menor perspectiva se ia conseguir ou não saldar… A segunda solução que veio foi o acerto (venda) do Panamericano, e o cliente viu que as empresas precisam agora viver e ser saudáveis, o SBT ganhou nova vida.
As empresas são super independentes, não tem isso.Mas quando o banco se foi, houve aqui um aperto de cintos. Na primeira fase, sim, mas acho que o SBT reviveu nessa história. A gente passou por um momento difícil, houve perda, mas, de todos os cenários que foram apresentados pra gente, de 10 anos com todas as empresas em garantia, sem a gente ter a menor perspectiva se ia conseguir ou não saldar… A segunda solução que veio foi o acerto (venda) do Panamericano, e o cliente viu que as empresas precisam agora viver e ser saudáveis, o SBT ganhou nova vida.
E os contratos? Voltaram a ser feitos por longo prazo?
Eu não sei se é bom colocar ou não isso, mas prefiro ter as pessoas trabalhando aqui com contrato indeterminado. O que a gente viu é que não adianta nem a emissora ficar presa nem o funcionário. Hoje, o Ratinho não tem contrato, o Raul Gil e a Marília Gabriela também não. Essa coisa de amarrar, se o profissional amanhã ou depois quiser fazer outra coisa da vida dele, ele tem liberdade.
Eu não sei se é bom colocar ou não isso, mas prefiro ter as pessoas trabalhando aqui com contrato indeterminado. O que a gente viu é que não adianta nem a emissora ficar presa nem o funcionário. Hoje, o Ratinho não tem contrato, o Raul Gil e a Marília Gabriela também não. Essa coisa de amarrar, se o profissional amanhã ou depois quiser fazer outra coisa da vida dele, ele tem liberdade.
Ao contrário da Record, que se proclama a caminho da liderança, o SBT festejava o 2º lugar. Por que nunca cobiçou o 1º?
Não é, é que há a realidade. A Record virou chacota, é uma emissora de primeira que não engata a segunda, é o que o mercado fala. A gente nunca se expôs a isso. Estudei a grade da Globo, é uma grade de acordo com o hábito da população brasileira, é uma coisa linda. Você vai no Projac, é uma estrutura de primeiro mundo, é uma fábrica muito bem feita. Eles têm os seus méritos e a gente sempre se enxergou como uma emissora mais nova que tinha mais a crescer.
Não é, é que há a realidade. A Record virou chacota, é uma emissora de primeira que não engata a segunda, é o que o mercado fala. A gente nunca se expôs a isso. Estudei a grade da Globo, é uma grade de acordo com o hábito da população brasileira, é uma coisa linda. Você vai no Projac, é uma estrutura de primeiro mundo, é uma fábrica muito bem feita. Eles têm os seus méritos e a gente sempre se enxergou como uma emissora mais nova que tinha mais a crescer.
Vocês imaginam o SBT sem Silvio Santos?
Eu não fico pensando nisso. Minha forma de viver a vida é pensando no hoje. Vamos fazer planos pro SBT? Vamos. Mas ficar pensando no ruim, sofrer por antecipação, isso não.
Eu não fico pensando nisso. Minha forma de viver a vida é pensando no hoje. Vamos fazer planos pro SBT? Vamos. Mas ficar pensando no ruim, sofrer por antecipação, isso não.
Fonte: Cristina Padiglione (Estadão)
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