Mulher de Fases, a nova série brasileira da HBO, não é nem complicada nem perfeitinha, como diz a música da extinta banda Raimundos que lhe empresta o título. Mulher de Fases é simplesmente bem-feitinha. E machista.
Com 13 episódios, a série coproduzida pela Casa de Cinema explora a busca de um novo parceiro por uma mulher recém-separada, jovem e bonita. Ela trabalha como corretora de imóveis em Porto Alegre, o que justifica sua mobilidade e circulação por universos distintos.
O problema é que Graça (Elisa Volpatto), essa mulher, não tem personalidade. Ela se adapta ao universo de cada potencial parceiro que encontra, adotando seus comportamentos.
No primeiro episódio, que a HBO leva ao ar em toda a América Latina no próximo dia 11, às 20h30, Graça se apaixona por um fumante e se interessa por guru místico. Passa a fumar e a andar toda "zen".
No segundo episódio, ela se envolve simultaneamente com um personal trainer e um empresário milionário. Da noite para o dia, vira atleta e flerta com vitrines.
E assim sua jornada prossegue. Sempre, a cada episódio, dois homens diferentes. E duas novas facetas. Graça se torna poeta, militar, política, surfista, maníaca por limpeza.
Apenas em um episódio essa regra será quebrada. Graça se sentirá atraída por "uma pessoa", segundo a produtora Nora Goulart _o que induz à crença de que ela terá um caso com uma mulher.
A saga da busca de um parceiro se transforma em um desfile de tipos masculinos. E Graça, apesar de não ser vulgar, em um pesadelo para as feministas, um retrocesso para as heroínas.
Mulher de Fases, no entanto, está longe de ser um programa ruim. É um bom entretenimento, uma comédia romântica leve para quem quer apenas espairecer depois de um dia de trabalho. Aparentemente, é a isso que se propõe. E consegue.
Tem uma edição ágil, uma boa direção, um bom elenco fixo (alguns atores, como a protagonista, são gaúchos; outros foram içados no teatro). A seu favor, ainda há o fato de revelar paisagens de Porto Alegre, quebrando a hegemonia de Rio-São Paulo.
Cada episódio dura 30 minutos. Foram todos filmados em 16 mm, o que lhe confere granulação nas imagens, e finalizados em alta definição. Mulher de Fases é a última série da HBO em película _as próximas serão todas captadas com câmeras digitais.
A série, apesar do componente machista, teve mulheres em pontos-chave de sua produção. A história é baseada no livro Louca por Homem, da escritora brasileira Claudia Tajes, que coordenou os roteiros, em parceria com Pedro Furtado e Duda Tajes. A produção é assinada por Nora Goulart, e a direção, por Ana Luiza Azevedo (diretora do filme Antes que o Mundo Acabe) e Marcio Schoenardie.
Heroína ingênua
Em entrevista coletiva na última terça-feira, a produtora Nora Goulart defendeu Mulher de Fases. "Nós passamos mais de dois anos trabalhando no texto, perseguindo um tipo de comédia que não fosse escrachada, tentando dar dignidade à Graça", afirmou.
Elisa Volpatto, intérprete de Graça, disse ver "referências" de The Sex and The City na série gaúcha. "A Graça tem uma coisa um pouco parecida comigo, que é a ingenuidade. Se ela não tivesse essa pureza, não teria esse envolvimento todo [com diferentes e variados homens] e seria até vulgar", disse a atriz.
Nata do cinema
Mulher de Fases ainda tem outro nome importante em seus créditos: Giba Assis Brasil, diretor e montador de filmes. É dele a edição da série. Sócios da Casa de Cinema de Porto Alegre, Giba Assis Brasil, Ana Luiza Azevedo, Carlos Gerbase e Jorge Furtado são alguns principais nomes da produção cinematográfica e televisiva nacional contemporânea.
A série custou R$ 7,7 milhões, dos quais 95% são recursos de incentivo fiscal.
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