quarta-feira, 9 de março de 2011

De Super-Man a Hebe Camargo, Carnaval de Salvador virou encontro de tudo


Após seis dias de foliões incansáveis, festa baiana chega ao fim

Miguel Arcanjo Prado, enviado especial do R7 a Salvador
Vinícius Eduardo/AgNews
Vinícius Eduardo/AgNews
Hebe Camargo no trio de Claudia Leitte: no Carnaval de Salvador, tudo se mistura

 
Após seis dias de intensa folia pelas ruas da cidade, o Carnaval de Salvador chega ao fim nesta Quarta-Feira de Cinzas (9), apesar da teimosia de Carlinhos Brown e Ivete Sangalo com o seu Arrastão pela orla da Barra nesta manhã, junto aos foliões que relutam por voltar à realidade.

Os funcionários da limpeza recolhem nas ruas da cidade toneladas de lixo deixadas pelos foliões, mas não apagam as memórias de um Carnaval marcado por participações especiais que mostraram que, nos circuitos da folia baiana, é possível juntar de tudo.

O Carnaval de Salvador conseguiu unir Restart e Olodum, talvez uma das misturas mais inusitadas já feitas em nossa música. Saulo Fernandes, da Banda Eva, chorou ao cantar com o músico camaronês Blick Bassy. Os sertanejos e os pagodeiros também tiveram seus respectivos trios.

Houve ainda Ivete Sangalo, com a habitual segurança e domínio do povo, cantando ao lado do meteoro Luan Santana. Aliás, Ivete, como sempre, é um caso à parte no Carnaval. Generosa, cantou no último dia da folia com Reginho, o compositor do hit Minha Mulher Não Deixa Não, e afirmou que “a mulher pode tudo”. Ou melhor, Ivete pode tudo.

Ivete Sangalo
Ivete canta com Luan Santana - Foto: Sandro Honorato/AGF Pontes/Divulgação

Mas o último dia de festa foi de uma incansável Hebe Camargo, vinda direto da homenagem a Roberto Carlos na folia carioca para o alto do trio de Claudia Leitte.

Em Salvador, Hebe não se contentou a ser um ornamento carnavalesco. Falou com o povo, declarou a amor a todos, cantou, soprou velinhas de seu aniversário de 82 anos, ganhou os parabéns de Deus e o mundo e até jantou com Gilberto Gil e Claudia Leitte, após o percurso feito sob um calor insuportável. Enfim, mostrou que aproveitar a vida é com ela mesma.

Daniela Mercury, mais uma vez a artista dedicada de sempre, trouxe um Carnaval inteligente e repleto de pesquisa, com sua homenagem às mais variadas formas de artes, transformando seu trio em um propagador cultural.

Margareth Menezes e Carlinhos Brown mantiveram a ligação e a reverência às influências negras na música baiana, mas sem medo do novo, como os homens azuis do Blue Man Group ao lado do criador da Timbalada ou o movimento afropop liderado pela cantora de Elegibô.

E por falar no novo, a população baiana consagrou neste Carnaval uma canção do estilo que gosta: a música Liga da Justiça, da banda de pagode baiano LevaNóiz. O refrão “Foge, foge, Mulher Maravilha. Foge, foge, com o Super-Man” foi tocado à exaustão em todos os lugares possíveis – e impossíveis – da cidade, além de ser incorporado ao repertório das grandes estrelas. Para a alegria do vocalista André Ramón, a nova celebridade do pedaço.

LevaNóiz
LevaNóiz: Carnaval da Mulher Maravilha e do Super-Man - Foto: Sandro Honorato/AGF Pontes/Div.

As estrelas tiveram neste ano, cada qual seu camarote, em uma disputa ferrenha. Cada um maior e mais cheio de Vips que o outro. Daniela, a pioneira, fez parceria com a Contigo!. Ivete, com a revista Quem. E Claudia, com a IstoÉ. Gilberto Gil manteve seu Expresso 2222 sem revista, só com a família dele mesmo, como sua mulher, Flora, bradou.

Em 2011, a Bahia recebeu o novo sem pestanejar, mas manteve a ligação com a tradição em blocos como o Ilê Ayê, o mais belo dos belos, e os Filhos de Gandhy. Para reforçar o laço com o passado, as marchinhas, blocos e bandas populares invadiram as ruas do Pelourinho e do Centro Histórico.

Mas nem tudo é festa. Apesar de o Carnaval de Salvador ter se transformado neste megaevento capaz de atrair 500 mil turistas em apenas seis dias e gerar uma renda de R$ 1 bilhão, ele precisa aparar muitas arestas.

A violência ainda assusta quem vem de fora, bem como a exploração financeira dos turistas. Quem não fala “baianês” encontra preços bem mais caros para praticamente todos os tipos de serviços, como comprovou diversas vezes a reportagem do R7.

Isto sem contar nos taxistas, que muitas vezes se recusam a ligar o taxímetro ou recusam viagens mais curtas, mesmo que o folião esteja perdido na madrugada.

Coisas como esta mancham a imagem de uma cidade que vai sediar jogos da Copa do Mundo. Porém, mesmo assim, não conseguem tirar o brilho daquela que é a maior festa do planeta. Afinal, a maioria do público e das estrelas quer mesmo é uma festa sem fim. Coisas da Bahia.

Pelourinho
Foliões curtem Carnaval no Pelourinho: cartão postal - Foto: Juan Tellategui

O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite da Ciel Empreendimentos Artísticos.

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