sexta-feira, 27 de maio de 2011

‘E Aí, Doutor?’ pega carona na onda dos programas de saúde, mas flerta com o sensacionalismo e esquece do otimismo

 Antonio Sproesser Jr: apresentador não combina com heavy metal
Como tudo que dá certo na TV, basta que um programa específico dê certo para surgirem outros na mesma linha. O caso mais recente é o do “E Aí, Doutor?”, que estreou esta semana na Record e, claro, não pode deixar de ser relacionado ao “Bem Estar”, exibido nas manhãs da Globo. Embora passem em horários diferentes, ambos tratam do mesmo tema: saúde. No caso da atração apresentada pelo médico Antônio Sproesser Jr., o formato vem de fora: é baseado no “Dr. Oz”, sucesso nos Estados Unidos. Uma análise mais detida de uma de suas edições, no entanto, mostra que ainda falta bastante para que consiga fazer um barulho parecido por aqui.
O programa da última quarta-feira, por exemplo, tratou durante um terço do seu tempo sobre transplante de rim. Uma garota, que teve de passar pelo procedimento por duas vezes, deu seu depoimento. Tudo ao som de uma música triste, quase como se tentassem arrancar dela ou do espectador alguma lágrima. Afinal, por que apelar para esse tipo de trilha numa produção que é voltada para melhorar a relação das pessoas com a saúde? De casos tristes a TV brasileira já está repleta. E, sinceramente, tragédia ou melancolia não são as maneiras mais eficientes de atrair a audiência. Durante a conversa com a moça – que transcorreu fria – a câmera insistia em mostrar uma mulher emocionada na plateia. Mais tarde, revelou-se que era uma tia que havia doado um dos rins. E foi aí que se viu o quanto se apelou: por duas vezes, o apresentador insistia para a mulher agradecer à tia. “O que você tem a dizer a ela?”, perguntava novamente, mesmo depois de já ter ouvido da primeira vez.
O roteiro também precisa ser melhor trabalhado. Depois de um VT que mostrava como transcorreu o segundo transplante, do começo ao fim, o médico diz: “E advinhem só o que aconteceu?”. Apenas para contar a história de novo. As legendas também não são das melhores “Nádia devolveu a vida a Aline”, surgia na tela. Um desavisado poderia achar que a quarta-feira havia virado domingo ou que “A Tarde É Sua” e “Casos de Família” foram parar na Record. Este é um formato que tem de ser voltado para o otimismo, com foco na superação e não no sofrimento. E esta edição tem feito parecer exatamente o contrário.
Antônio Sproesser também tem um pouco a aprender. Novato na TV, sofre com a falta informalidade, se mantém sério demais e torna difícil que o espectador se relacione com ele. Precisa relaxar mais. Da mesma maneira, não é com legendas como “Doutor Antônio é atleta e investe em qualidade de vida” que a emissora vai torná-lo conhecido do público. Assim dá a impressão que o programa é sobre ele e não sobre saúde. O apresentador se sai melhor no momento em que permite que a plateia lhe faça perguntas. Talvez porque acabe desempenhando o papel para o qual se formou e o que faz melhor: atender pacientes. Suas consultas, apesar do excesso de didatismo, oferecem maior dinamismo à atração, que, em sua maior parte, dá sono.
Por fim: há que se tomar maior cuidado com a trilha sonora da produção. Não bastasse ouvir músicas tristonhas quando histórias reais são contadas, um heavy metal surge diversas vezes. Difícil engolir que essa seja a trilha sonora do “E Aí, Doutor?”, que de moderninho e descolado não tem nada. E mais: vamos combinar, esse estilo musical não casa com a imagem de um quarentão que usa roupas engomadinhas e mantém um topetinho impecável. Em sua estreia, a atração marcou 7,5 pontos de média, segundo o Ibope. No segundo episódio, o número caiu para 5 pontos. O terceiro fechou com 5. Ou seja, os números, ainda cambaleantes, não superaram o da estreia. Talvez alguns dos pontos desse texto expliquem a queda. Ainda dá tempo de corrigir o rumo, Record.
Fonte: Na TV

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