quarta-feira, 20 de abril de 2011

Figurino de “Cordel Encantado” recebe elogios da Crítica


Marie Salles e Karla Monteiro têm motivos de sobra para rir de orelha à orelha. Responsáveis pelo figurino da novela das seis da Globo, “Cordel Encantado”, as duas sabem como ninguém o que é ver o resultado de quase seis meses de trabalho árduo no ar. “Começamos a pesquisar o figurino da novela em novembro. Foi um mês de pesquisa 24 horas por dia”, lembra Marie em entrevista ao UOL.
Amigas há 20 anos, Marie e Karla se reuniam na casa da primeira e se dividiam entre os computadores para pesquisar sites de história dos mais variados países. Karla afirma que, no início, a dupla ficou tão imersa nesse universo de pesquisa que chamou a atenção do filho mais velho de Marie, Mateus, de nove anos. “Ele ficava muito impressionado com a nossa quantidade de trabalho. Foi aí que tivemos ideia de pedir a ele para desenhar como ele imaginava que seria o rei Augusto [personagem do Carmo Dalla Vecchia]”, conta
As figurinistas contam que a iniciativa de pedir ao menino para que ele imaginasse um rei partiu da conversa que elas tiveram com o diretor de núcleo Ricardo Waddington e a diretora-geral Amora Mautner. “A encomenda do Ricardo e da Amora para a gente foi encontrar o rei no imaginário coletivo. Até porque, por mais que a novela tenha como fio condutor os anos de 1890 e 1900, ela é uma fábula. E, como tal, nos dá uma certa liberdade criativa”, argumenta Marie.
Encerrada a vasta pesquisa geral do figurino – elas pesquisaram mais de nove gigabytes de material e assistiram a mais de 40 filmes –, Marie e Karla começaram a fazer uma pesquisa individual para cada um dos 55 personagens da trama de Thelma Guedes e Duca Rachid. “Fizemos uma pesquisa de acordo com os quatro núcleos da história: Seráfia do Norte, Seráfia do Sul, Brogodó e cangaceiros”, lembra Marie, acrescentando que elas criaram pranchas com informações sobre cada personagem.
Para criar o figurino do rei Augusto (Carmo Dalla Vecchia), da Seráfia do Norte, Marie e Karla afirmam que se inspiraram no último czar russo, Nicolau II. “O personagem do Carmo foi todo pautado no Romanov, que é o pai da princesa Anastácia. Foi o período mais rico da história. A Alexandra, mulher dele, era a rainha mais chique. A gente se baseou nela para criar os figurinos da rainha Efigênia [Berta Loran] e da duquesa Úrsula [Deborah Bloch]”, conta Karla.
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Como a novela é de época, todas as roupas e acessórios precisaram ser produzidos na Central Globo de Produção. “Nada estava pronto. Até reaproveitamos alguns figurinos do acervo da emissora. Mas só os tecidos. Até porque, o conceito do figurino da novela é muito específico”, explica Marie, acrescentando que os personagens de Seráfia do Norte usam cores solares, como dourado, tons claros, bege e marrom – com exceção dos vilões, que usam verde, bordô e preto.
Aliás, Karla explica que todas as peças da novela – de todos os núcleos – são artesanais. “As peças de todos os 55 personagens da história sofrem intervenções. Tudo passa pela mão de uma bordadeira, ou é tingido, envelhecido. A roupas da Ternurinha [Zezé Polessa], por exemplo, passam por, pelo menos, duas bordadeiras”, explica.
Karla emociona-se ao lembrar de quando as bordadeiras criaram o vestido de noiva para a princesa Carlota [Luana Martau]: “O vestido é todo bordado. Deu um trabalho e tanto para as bordadeiras. Quando a Luana veio fazer a prova, todo pessoal da costura e do bordado parou de trabalhar para vê-la experimentando o vestido. As bordadeiras ficaram emocionadas. Foi uma comoção”.
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Uma das maiores dificuldades que Marie e Karla enfrentaram na hora de criar o figurino de Seráfia do Norte foi encontrar o material para a gola e a dragona do rei Augusto. “Só conseguia imaginar o metal. Fomos a um monte de ferro velho, fui a uma feira no Bixiga, em São Paulo, atrás de uns puxadores de porta. Mas nada ficava bom. Na hora que bordávamos no manequim, caía. Era pesado demais. Até que a Karla descobriu um menino que trançava metal numa feira aqui no Projac [complexo de estúdios da Globo]. Conseguimos, então, o que procurávamos”, recorda Marie, afirmando que as dificuldades não pararam por aí: “Aí começamos a busca pela cor. Porque existem vários tipos de ouro. Só que no alumínio não pega. Então dá um trabalho danado. Porque temos que colocar uma química, depois banhar de ouro. Enfim, é tudo artesanal”.
Para o figurino de Seráfia do Sul, Marie e Karla optaram pelas cores prata, azul marinho e preto. “Seráfia do Sul é o meu xodó”, entrega Karla. Todo feito à mão, o figurino de Brogodó também não fica atrás na preferência da figurinista. “Brogodar virou verbo para a gente. Significa acrescentar o feito à mão. Por isso dizemos que demos uma brogodada no figurino”, diverte-se.
Com tons claros e materiais naturais, como a juta e o algodão, o visual brogodense recebe aplicações de madeira, sementes, palha e coco. “As toalhas de mesa viraram vestidos para os personagens de Brogodó”, conta Karla, acrescentando que o povo brogodense usa muitas peças com crochê, renda filé e patchwork.
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Já para as peças usadas pelos cangaceiros, Marie e Karla foram buscar inspiração nos guerreiros como os samurais, por exemplo. Marie conta que descobriu um menino no Ceará que faz artesanato em couro. “A cultura do artesanato em couro é muito forte no Ceará, passa de pai para filho. Conheci o trabalho desse menino e achei perfeito para a novela. Aí começamos a montar esses desenhos com a chapa de metal”, lembra ela, que também aplica tachas e placas de prata nas roupas de Herculano (Domingos Montagner) e Zóio-furado (Tuca Andrada).
Satisfeitas com o resultado de tantos meses de pesquisa e criação, Marie e Karla fazem questão de dizer que só chegaram ao figurino que desejavam porque contaram com um belo trabalho de equipe. “Fazer um bom trabalho dá muito trabalho. E o diferencial da equipe dessa novela é a dedicação”, elogia Karla, confessando que tem vontade de ver o figurino de “Cordel Encantado” fora da novela. “Adoraria fazer um livro com os figurinos. Quem sabe?”, conclui.

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