Geraldo Bessa
Com o texto ágil e sempre inspirado de Ti-ti-ti, Maria Adelaide Amaral vem provando que poderia ter sido bem mais aproveitada pela Globo em obras de longa duração. A escritora colaborou no trabalho de diversas novelas da emissora, mas assinou como autora principal apenas a segunda versão de Anjo Mau, exibida em 1997. A partir disso, Maria Adelaide ficou famosa pelo êxito alcançado com suas minisséries de temas históricos e direção de arte apurada, como A Muralha, de 2000, Os Maias, de 2001, e mais recentemente, Queridos Amigos, que foi ao ar em 2008.
De boba, a cúpula da emissora não tem nada. Se o objetivo era organizar a bagunça causada por Tempos Modernos e deixar os números do Ibope no patamar dos 30 pontos, a meta foi alcançada. Entrelaçar histórias de Ti-ti-ti e outras novelas de Cassiano Gabus Mendes foi uma estratégia acertada, porém tudo fez mais sentindo ao entregar a responsabilidade desta adaptação a Maria Adelaide, que colaborou com o autor nas tramas de Meu Bem, Meu Mau e O Mapa da Mina. Com a decisão, o horário das sete ficou mais alegre e inteligente.
A trama de Ti-ti-ti está coerente com seu pano de fundo: o fútil e disputado mercado da moda. Maria Adelaide sabe dar o tom correto a todas as facetas que envolvem esse universo. Entre o estereótipo e o realismo, convivem jornalistas, estilistas, modelos, fotógrafos, stylists e outras figuras do ramo. A demanda de atores para criar todo o circo foi extensa. Com um elenco tão grande, o que mais chama a atenção é a falta de uma prática comum a novelas com muitas tramas paralelas: o desperdício de talentos. Tantos os atores principais, quanto os secundários têm seu espaço para aparecer e mostrar seu trabalho. E não são falas soltas no ar. A autora não perde a oportunidade de rechear os diálogos do folhetim com petardos da cultura “pop”. É isso que torna a novela um produto cada vez mais gostoso de acompanhar.
É preciso abstrair a choradeira de Marcela – prejudicada com a dificuldade da atriz Isis Valverde de construir personagens diferentes – e focar nas boas cenas protagonizadas por Mayana Neiva, com a periférica modelo Desirée, ou prestar atenção aos ensinamentos da perua Dorinha Bacelar, papel de Mônica Martelli. Outro destaque fica por conta de Elizângela, Dira Paes e Rodrigo Lopez, núcleo por trás de Victor Valentim, falso estilista criado com bom humor por Murilo Benício.
Na parte técnica, a novela precisa de ajustes. O trabalho de direção de atores continua a surpreender, enquanto a edição ainda não aprendeu a usar com parcimônia os efeitos de corte entre uma cena e outra. São animações de tesouras, zíperes e agulhas demarcando os assuntos. O recurso é feito à exaustão e resulta tedioso e desnecessário. Por fim, todos sabem do talento de Jorge Fernando, diretor de núcleo da produção, mas esteticamente, Ti-ti-ti é quase uma irmã gêmea de Caras & Bocas, novela dirigida por ele em 2009. São cenas aéreas parecidas, atores em personagens semelhantes e trilha sonora no mesmo tom.
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