terça-feira, 21 de setembro de 2010

60 anos da TV brasileira: A História da grande pioneira “TV TUPI”

Dezoito de setembro de 1950. Inaugurada a PRF-3 TV TUPI de São Paulo, primeira emissora de televisão do Brasil e da América Latina. Iniciativa do jornalista paraibano Francisco de Assis Chateaubriand.
Depois de poucos meses de treinamento, alguns radialistas escolhidos por Chatô lançaram-se à aventura de fazer TV. Os estúdios earm pequenos, o equipamento precário, mas o nascimento da TV Tupi foi solene. Assis Chateaubriand presidiu a cerinômia que contou com a participação de um frei cantor mexicano. José Mojica, que entoou “A Canção da TV”, hino composto especialmente para a ocasião. Um balé de Lia Marques e declamação da poetisa Rosalina Coelho Lisboa, nomeada madrinha do “moderno equipamento” fizeram parte do show. A jovem atriz Yara Lins foi convocada especialmente para dizer o prefixo da emissora — PRF-3 — e o de uma série de rádios que transmitiam em cadeia o acontecimento. A seguir entrou a programação na tela dos cinco aparelhos instalados no saguão do prédio dos Diários Associados.
Há muitas histórias a respeito desse dia. Uma delas é que, empolgado, Chateaubriand teria quebrado uma garrafa de champanhe numa das duas câmeras RCA, fazendo com que a TV no Brasil entrasse em cena com apenas 500/o de sua capacidade, isto é: com apenas uma câmera. Outra é que, acabada a inauguração, a equipe se deu conta de que não havia o que colocar no ar no dia seguinte, pois ninguém havia pensado nisso.
O autor de novelas Cassiano Gabus Mendes que, aos 23 anos, assumiu a direção artística da Tupi, não podia ouvir essas histórias, desmentia quantas vezes fosse preciso. “É tudo invenção do Lima Duarte. Como ele é muito engraçado, as pessoas acabam se convencendo.” dizia ele pouco antes de morrer, em 1994. “Chateaubriand era um homem esclarecido, não ia danificar equipamento e tínhamos programação para as três semanas seguintes”.
Acostumados à improvisação e rapidez do rádio, os pioneiros não tiveram problemas em se adaptar ao moderno veículo e aprenderam muito: ator virava sonoplasta, autor dirigia, diretor entrava em cena. A TV TUPI dos primeiros anos era uma verdadeira escola. Aos poucos, os programas ganharam forma: o primeiro telejornal… a primeira novela.
O programa “TV DE VANGUARDA” revelou a primeira geração de atores, atrizes e diretores. Foram apresentadas peças como Hamlet, de Shakespeare, e Crime e Castigo, de Dostoievsky. Alguns programas dos primeiros tempos da TV TUPI tornaram-se campeões de audiência e permanência no ar: Alô Doçura, Sítio do Picapau Amarelo, O Céu é o Limite, Clube dos Artistas (que existiu de 1952 a 1980) e o famoso telejornal “O Repórter Esso” (que ficou 18 anos no ar).
Telenovela foi invenção da Tupi, que as exibia em capítulos semanais e era capaz de ousadias como mostrar beijo na boca. Foi em 1951, na novela Tua Vida Me Pertence, que Vida Alves deixou-se beijar pelo galã Walter Forster.
No jornalismo a emissora repetiu na tela o sucesso do Repórter Esso, que marcou época no rádio brasileiro a partir de 1941. Os locutores Heron Domingues e Gontijo Teodoro entravam no ar com as últimas noticias nacionais e internacionais ao som de um dos mais famosos prefixos musicais da história do rádio e televisão brasileiros.
Se durante a primeira década de sua existência a TUPI foi líder absoluta, nos anos 60 as emissoras concorrentes aprimoraram sua programação para lutar pela audiência.
Em 1968, a novela “Beto Rockfeller”, de Bráulio Pedroso, revoluciona a linguagem da televisão. A partir da figura de um anti-herói, surge um novo estilo de interpretação, mais natural. A TV TUPI revela mais uma geração de talentos. A morte de Assis Chateaubriand, em 1968, marca o início de uma crise longa e sem solução. Abalada por problemas financeiros, mal administrada, sem investimentos, a TV TUPI perde qualidade e audiência.
As emissoras concorrentes vão ocupando os espaços vazios deixados pela pioneira. Ano após ano, a crise se aprofunda. No fim dos anos 70 a situação é incontrolável. Os salários estão atrasados. Há dívidas astronômicas junto à Previdência Social. Proliferam escândalos financeiros. Em agosto de 1977, Éramos Seis. Cinderela 77 e Um Sol Maior registravam os mais baixos índices de audiência da história da Tupi. Além da audiência, a publicidade também escapolia para as concorrentes, o caixa se esvaziava, os salários deixavam de ser pagos e a greve era questão de tempo. Em outubro de 1977, com três meses de salários atrasados, os funcionários iniciaram a primeira greve, interrompida com o pagamento parcelado dos débitos.
Os constantes atrasos dos salários mantinham o clima tenso na Tupi. As perspectivas de pagamento dos atrasados eram cada vez mais remotas e as explicações dadas aos funcionários, cada vez mais inconsistentes. Para piorar ainda mais a situação, em outubro de 1978 um incêndio no prédio da emissora, em São Paulo, tirou a Tupi do ar por alguns minutos. No ano seguinte, o elenco de O Espantalho, de Ivani Ribeiro, processou a emissora por violação dos direitos autorais. Entre 79 e 80, nova greve. A crise chegou a Brasilia. O então presidente da República, João Figueiredo. se dispôs a receber uma comissão de dirigentes dos sindicatos envolvidos. Muito se discutia, pouco se fazia.
A greve persistiu até o início de fevereiro, quando a emissora fechou seu departamento de teleteatro e dispensou 250 funcionários. Foram interrompidas as novelas “Drácula” e “Como Salvar Meu Casamento”, drama estrelado por Nicete Bruno e Adriano Reis.
Dezessete de julho de 1980. Pouco antes de completar 30 anos no ar, a TV TUPI tem sua concessão cassada pelo governo federal. Minutos antes do meio-dia de 18 de julho de 1980, três engenheiros do Departamento Nacional de Telecomunicações (Dentel) subiram ao décimo andar do edifício-sede da TV Tupi de São Paulo, na avenida Alfonso Bovero, no bairro do Sumaré, e lacraram o transmissor da emissora. Saíam também do ar a TV Tupi do Rio, a TV Itacolomi, de Belo Horizonte, a TV Marajoara de Belém. a TV Piratini de Porto Alegre, a TV Ceará de Fortaleza, e a TV Rádio Clube de Recife.
Um delegado da Polícia Federal e mais quatro agentes davam proteção aos engenheiros. Era o fim da TV Tupi. A emissora saía do ar exatamente 29 anos e dez meses depois de sua inauguração.
O governo militar preferiu a cassação a entregar o canal a uma cooperativa de funcionários. Permanece, entretanto, um acervo de duzentos mil rolos de filmes, 6.100 fitas de videotape e textos de telejornais que contam 30 anos de muitas histórias do Brasil e do mundo.
Redação:

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